Uma falência pode ser o pontapé inicial para criar negócios de sucesso.
O caminho do empreendedorismo pode incluir muitas conquistas, mas também muitos desafios. Não é raro que uma empresa de sucesso seja fruto de um aprendizado anterior de seu dono com uma falência, uma vez que o índice de mortalidade de negócios ainda é alto.
Uma pesquisa do Sebrae, com dados da Receita Federal, mostra que empresas de pequeno porte têm taxa de mortalidade de 17,6% em cinco anos de existência – entre Microempreendedores Individuais (MEI), esse índice pode chegar a 29%.
Para inspirar quem pretende empreender após uma experiência mal-sucedida, PEGN separou 6 histórias de empreendedores brasileiros de sucesso que deram a volta por cima após perderem tudo. Confira:
Sem eventos na pandemia, ela criou empresa de chá de fraldas em 15 dias
A empresa de eventos e viagens de Roberta Lasnaux começou a entrar em declínio, após mais de dez anos de atuação, logo no início das restrições impostas pela pandemia de covid-19. Com o cancelamento de contratos e a iminente quebra, ela precisou buscar por algo que a ajudasse a complementar a renda o mais rápido possível.
A quase falência foi a oportunidade para que Lasnaux tirasse do papel uma ideia que teve ao se tornar mãe, dois anos antes: uma plataforma para gerenciar chá de fraldas, a Pipooh. Ela conseguiu utilizar a mesma equipe da empresa de eventos para colocar o projeto no ar em 15 dias, em 2020. Em pouco mais de três meses, já tinha cadastrado cinco mil mães e faturado cerca de R$ 100 mil.
A Pipooh foi pensada para que a mãe ou o pai se cadastre na plataforma de forma gratuita e faça uma lista de presentes. A compra feita pelo convidado é convertida em créditos, e os pais trocam pelos produtos que fazem mais sentido para eles – até um ano depois do chá. Com os resultados, ela conseguiu reerguer a empresa de eventos e manter as duas frentes.
Hoje, a Pipooh ampliou seu escopo, atuando também como uma carteira digital para concentrar os principais ganhos e gastos do bebê no primeiro ano de vida. A empresa tem 40 mil mães cadastradas na plataforma, faturou R$ 1,6 milhão e abriu a primeira loja física em São Paulo.
Ele faliu duas vezes e hoje fatura milhões com lavagem ecológica de carros
Alexandre Valença trabalhava na Prefeitura de Olinda (PE), aos 22 anos, quando resolveu comprar um lava-jato em um shopping center da região, em 2007. Ele sempre sonhou em ter uma empresa, então buscou crédito e empréstimos com familiares para conseguir fechar o negócio. Ele estudou e buscou formas de erguer a empresa, mesmo ainda sendo inexperiente no mundo dos negócios.
Dois anos depois, o shopping pediu o ponto. “O principal ativo que tínhamos era a localização, não tinha como levar para outro lugar. Tentei argumentar, mas foi em vão”, disse o empreendedor. Assim, ele viveu a primeira falência, aos 25 anos.
No mesmo ano, resolveu empreender de novo no ramo de lavagem ecológica de carros. Chamou um sócio e fundou a DryJet. A primeira unidade foi aberta em um hipermercado e, em 2011, virou franquia. No entanto, cinco anos depois, com o fim da sociedade e a crise econômica, ele precisou fechar quase metade das lojas e encarar uma segunda falência.
Em 2018, Valença resolveu tentar novamente, mantendo a marca. Agora, com as cinco lojas restantes, apostaria no serviço de delivery, no qual o franqueado iria até o cliente, com apenas uma mala. A grande virada ocorreu em 2019, quando a marca fechou nove contratos de franquia em 45 dias. A empresa cresceu na pandemia, com a demanda por higienização, e fechou 2021 com 36 unidades e um faturamento de R$ 2,5 milhões.
Perrengue e falência até o caminho do sucesso
Décio Marchi Junior trabalhou na roça até os 23 anos, até que apareceu a oportunidade de comprar uma franquia de ensino. Ele vendeu o único bem que tinha, uma moto, e se jogou em uma sociedade com um amigo. No entanto, a empresa tinha problemas financeiros e o empreendedor levou cinco anos para conseguir levantar o negócio. Nesse período, ele chegava a manter um colchão na empresa para dormir por lá mesmo.
Depois de colocar a franquia nos eixos, Marchi recebeu a proposta de comprar outra unidade e topou, mas só arrumou mais dor de cabeça. A rede passava por uma troca de comando e os negócios já não tinham o mesmo suporte de antes. O empreendedor viu suas duas escolas começarem a falir. Ele decidiu abrir um restaurante árabe para ajudar a segurar as pontas, mas o estabelecimento faliu depois de um ano.
Quando o contrato de franquia venceu, Marchi resolveu não renovar e empreender por conta. Ele chamou outro amigo para se tornar sócio e criou a Via Certa Educação Profissional, em Birigui, no interior de São Paulo, em 2012. Hoje, o negócio é uma rede com 50 unidades e fatura mais de R$ 15 milhões.
Chuva destruiu negócio, mas ela não desistiu e faturou milhões com orgânicos
Em 2011, uma chuva forte e repentina levou toda a produção de orgânicos da empreendedora Fátima Anselmo em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Ela atendia grandes chefs no Rio de Janeiro, em cerca de 15 restaurantes, e perdeu tudo. “As terras viraram areia e eu não conseguia mais produzir”, afirma.
Anselmo não se deixou abater e resolveu buscar um novo espaço para começar de novo. Alugou um lugar menor, mais distante, com produção em menor escala e passou a fazer entregas por conta. Em uma dessas entregas de madrugada, foi assaltada e quase desistiu de tudo.
Foi quando resolveu procurar algo maior e mais próximo à cidade. Foi lá que ela recomeçou de verdade, enquanto ainda lutava para recuperar o solo em Petrópolis – o que só foi possível cinco anos depois da enxurrada. Em 2019, a Orgânicos da Fátima faturou R$ 2 milhões vendendo legumes para cerca de 100 restaurantes e hotéis no Rio de Janeiro.
Com a pandemia, a empresa quase fechou as portas, por conta das restrições impostas aos restaurantes. Para se manter no mercado, a empreendedora reformulou o negócio levando os orgânicos até o consumidor final, com cestas de alimentos. Para isso, foi necessário adaptar os veículos e preparar as equipes.
O site da Orgânicos da Fátima também se transformou em um e-commerce. “Nos juntamos com outros produtores que também estavam na mesma situação. Isso nos fortaleceu e nos deu uma lição de que juntos somos mais fortes. Não precisamos ver os outros apenas como concorrentes.”
A nova frente ajudou a empresa a faturar ainda mais em 2021, chegando a cerca de R$ 2,8 milhões. A equipe também cresceu: antes da pandemia eram 15 colaboradores, e agora são 35, envolvidos em tarefas que vão desde o plantio até as entregas.
Falido e endividado, mas com visão de oportunidade
Em menos de dez anos, Túlio Fonseca fechou três empresas e acumulou uma dívida de R$ 1,5 milhão. Mesmo diante da falência, ele ainda viu uma oportunidade de começar de novo. Durante o período que passou no último negócio, na área de segurança, Fonseca aprendeu sobre o mercado de energia solar e se encantou pelo ramo.
Em 2018, ele saiu de São José do Rio Preto para São Paulo para informar aos fornecedores do antigo negócio sobre o rompimento da sociedade e fechamento da empresa – mas também para falar sobre a Energy Brasil, seu novo projeto empreendedor. Da janela do avião, ele viu um “mar de oportunidades” em telhados de casas residenciais, e queria se amparar nisso para conseguir a confiança dos empresários – já que o dinheiro ele não tinha.
Por incrível que pareça, ele conseguiu a confiança de um fornecedor. Voltou para sua cidade e sublocou um pequeno espaço dentro da empresa de um amigo – só começaria a pagar o aluguel depois de 90 dias. Quando a empresa, que fazia a intermediação de venda entre o fornecedor e clientes, começou a andar, ele trouxe um sócio para o negócio e resolveu transformar em franquia.
A empresa começou a operar de fato no início de 2019 e bateu 100 franquias e faturamento de R$ 10 milhões em um ano de funcionamento. No final daquele ano, Fonseca já tinha conseguido pagar 95% das dívidas, e o negócio começava a entrar nos eixos. A Energy fechou 2021 com um faturamento de R$ 85 milhões, com mais de 450 franquias.